O ex-governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, desmentiu categoricamente as declarações de José Maria Ricciardi, ex-presidente do BES Investimento, sobre a existência de uma reunião em que supostamente teriam discutido a situação dos “lesados” do Banco Espírito Santo (BES). Costa negou ter tido qualquer encontro ou conversa com Ricciardi a respeito deste tema, numa resposta que agitou o cenário financeiro e político português.
A controvérsia
José Maria Ricciardi, que tem sido uma figura de destaque nas discussões sobre a queda do BES, afirmou publicamente que teria tido uma reunião com Carlos Costa, na qual teriam abordado as questões relativas aos clientes lesados pela falência do banco. Ricciardi sugeriu que o ex-governador estava ciente da situação e que discutiram potenciais soluções para os clientes que perderam seus investimentos durante a derrocada do BES, em 2014.
Em resposta a essas alegações, Carlos Costa emitiu um comunicado veemente negando as afirmações de Ricciardi. Segundo Costa, “nunca houve qualquer reunião ou conversa sobre os ‘lesados’ entre mim e o senhor José Maria Ricciardi.” O ex-governador foi firme ao afirmar que não teve qualquer tipo de interação com Ricciardi em relação a este assunto, rebatendo todas as insinuações.
A queda do BES e os “lesados”
O colapso do BES, em 2014, foi um dos eventos mais marcantes da história financeira recente de Portugal. O banco, que foi dividido em Novo Banco e BES “mau,” deixou milhares de investidores e pequenos poupadores com perdas significativas, criando uma onda de protestos e litígios. Estes investidores, conhecidos como “lesados do BES,” têm lutado desde então para reaver o dinheiro perdido, com vários processos judiciais e acordos propostos ao longo dos anos.
José Maria Ricciardi, sendo uma figura central no antigo império do Grupo Espírito Santo, foi chamado várias vezes a prestar esclarecimentos sobre o seu papel na gestão do BES. Ele tem reiterado que não teve responsabilidade direta pela queda do banco, apontando a administração central e as decisões do Banco de Portugal como fatores cruciais para o desfecho.
A reação de José Maria Ricciardi
Após a resposta de Carlos Costa, Ricciardi manteve a sua posição, afirmando que as suas declarações são baseadas em fatos. Em declarações à imprensa, Ricciardi mencionou que estava disposto a apresentar provas sobre a existência da suposta reunião, embora não tenha fornecido detalhes sobre que tipo de documentação ou evidência estaria disponível para sustentar as suas alegações.
O empresário criticou a postura de Carlos Costa, acusando-o de tentar distanciar-se das responsabilidades enquanto governador do Banco de Portugal durante a crise financeira que levou ao colapso do BES. “O papel do Banco de Portugal na supervisão foi negligente, e agora tenta-se apagar essa memória,” afirmou Ricciardi, em tom crítico.
A defesa de Carlos Costa
Carlos Costa, que foi governador do Banco de Portugal entre 2010 e 2020, tem defendido consistentemente a atuação da instituição durante a crise do BES. Segundo Costa, o banco central tomou todas as medidas necessárias para garantir a estabilidade financeira e proteger o sistema bancário português. Ele também destacou que a resolução aplicada ao BES foi uma decisão conjunta com as autoridades europeias, e que o objetivo sempre foi evitar o colapso do sistema financeiro.
Costa afirmou ainda que a narrativa de Ricciardi é “uma tentativa de reescrever a história” e que as decisões foram baseadas em “dados e informações concretas” à época dos acontecimentos. “A supervisão bancária atuou dentro do quadro legal e com os recursos disponíveis,” disse Carlos Costa, referindo-se às ações do Banco de Portugal durante o colapso do Grupo Espírito Santo.
As reações políticas e financeiras
As declarações de ambos os lados reacenderam o debate sobre a queda do BES e a atuação das autoridades na época. Políticos de várias alas, bem como representantes das associações de “lesados do BES,” têm se pronunciado sobre o caso. Muitos dos lesados ainda aguardam soluções definitivas para recuperar parte de suas economias perdidas, e a troca pública de acusações entre Costa e Ricciardi trouxe novamente à tona a questão da responsabilidade no colapso do banco.
Os partidos de oposição têm exigido mais transparência sobre as decisões tomadas pelo Banco de Portugal na altura da resolução do BES, enquanto os partidos da situação defendem que a intervenção foi necessária para evitar uma crise bancária ainda maior. O tema continua a gerar discussão no Parlamento, com novos pedidos de audiências e relatórios sobre a gestão da crise financeira de 2014.
O futuro dos lesados
Os “lesados” continuam a lutar judicialmente e politicamente por compensações adequadas, e a troca de acusações entre as figuras envolvidas no caso só aumenta a complexidade do processo. Associações de defesa dos investidores afetados têm intensificado seus apelos ao governo e às autoridades bancárias para que implementem soluções mais rápidas e justas para os cidadãos prejudicados.