Autárquicas: Bloco de Esquerda aprova abertura para coligação com PS em Lisboa

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O Bloco de Esquerda (BE) sinalizou, de forma inédita, a sua disposição para uma coligação com o Partido Socialista (PS) nas próximas eleições autárquicas em Lisboa. A decisão, aprovada na Convenção Nacional do partido realizada neste fim de semana, marca uma mudança na estratégia política do Bloco, que até agora mantinha uma posição de maior independência nas disputas autárquicas da capital.

Decisão estratégica e contexto político

A decisão de abrir negociações com o PS para uma possível coligação em Lisboa surge num momento crítico para a esquerda em Portugal. As eleições autárquicas de 2025 serão uma disputa chave para a renovação das forças políticas nos municípios, e em particular na capital, onde o Bloco de Esquerda tem enfrentado dificuldades em conquistar terreno eleitoral de forma significativa nos últimos anos.

Em declarações durante a Convenção, a coordenadora nacional do BE, Mariana Mortágua, afirmou que “os tempos exigem convergência para garantir que Lisboa continue a ser uma cidade progressista e voltada para o futuro”. Segundo Mortágua, o objetivo é impedir o avanço de políticas de direita que, segundo ela, ameaçam as conquistas sociais e ambientais alcançadas nos últimos anos.

Desafios internos e reação dos militantes

A decisão de explorar uma coligação com o PS não foi unânime dentro do Bloco de Esquerda. Setores mais tradicionais do partido, particularmente aqueles que valorizam a autonomia eleitoral do BE, manifestaram-se contra a medida. Durante os debates da Convenção, alguns delegados argumentaram que o BE deveria manter uma postura crítica e não associar-se a partidos que, em diversas ocasiões, tomaram decisões contrárias aos princípios do Bloco.

No entanto, a proposta acabou por ser aprovada por uma maioria significativa, refletindo a nova estratégia de adaptação às dinâmicas políticas locais. “Esta coligação não significa subordinação ao PS”, disse Mortágua. “Trata-se de um acordo programático que respeitará as nossas bandeiras e os nossos valores fundamentais.”

Entre os temas prioritários para o Bloco numa eventual coligação estão a habitação acessível, a mobilidade sustentável e a proteção dos serviços públicos. A liderança do partido sublinhou que essas serão condições essenciais para qualquer entendimento com o PS nas autárquicas de Lisboa.

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PS ainda não confirma negociação formal

Apesar da abertura demonstrada pelo Bloco de Esquerda, o Partido Socialista ainda não confirmou formalmente a existência de negociações com vista a uma coligação em Lisboa. O atual presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, do PSD, deverá tentar a reeleição, o que coloca uma pressão adicional sobre o PS para encontrar uma estratégia que garanta a recuperação da capital para a esquerda.

Fontes próximas ao PS afirmam que a liderança socialista está aberta a discutir coligações, mas que ainda é cedo para avançar com detalhes sobre possíveis entendimentos com o Bloco. A secretária-geral adjunta do PS, Ana Catarina Mendes, quando questionada sobre o assunto, afirmou apenas que “o PS está sempre disponível para dialogar com forças progressistas que queiram construir uma Lisboa mais justa e inclusiva”.

Nos bastidores, especula-se que a coligação poderá incluir também outras forças políticas, como o Partido Ecologista Os Verdes (PEV) e o Livre, num esforço de criar uma frente ampla contra a direita em Lisboa. O panorama eleitoral ainda é incerto, mas analistas apontam que a eleição de 2025 poderá ser uma das mais competitivas dos últimos anos na capital portuguesa.

Histórico de alianças e impacto no eleitorado

Caso se concretize, esta será a primeira vez que o Bloco de Esquerda se coligará formalmente com o PS numa eleição autárquica em Lisboa. No passado, as coligações entre partidos de esquerda em Lisboa, quando ocorreram, não envolveram o BE de forma direta. A relação entre o Bloco e o PS tem sido, em muitos momentos, marcada por divergências em questões como a austeridade e as políticas de habitação, o que torna a aproximação agora em discussão uma novidade no cenário político.

O impacto desta potencial coligação junto ao eleitorado é uma das grandes incógnitas. O Bloco de Esquerda tem, historicamente, conseguido mobilizar eleitores mais jovens e urbanos, sobretudo em áreas com forte presença de movimentos sociais. No entanto, a proximidade com o PS, que é visto por muitos desses eleitores como um partido mais moderado e associado ao establishment político, poderá alienar parte da sua base.

Por outro lado, a aliança pode ser vista como uma forma pragmática de aumentar o poder de influência do BE nas políticas municipais, especialmente em áreas-chave como a habitação, que tem sido um dos temas mais prementes para os eleitores lisboetas.

Impacto na disputa pela Câmara de Lisboa

A disputa pela Câmara Municipal de Lisboa em 2025 está a desenhar-se como uma batalha acirrada entre a direita, atualmente representada por Carlos Moedas, e a esquerda, que ainda não definiu completamente a sua estratégia. A possível coligação entre o Bloco de Esquerda e o PS pode mudar o equilíbrio de forças e criar uma frente unida capaz de desafiar a liderança de Moedas.

As políticas de habitação, mobilidade urbana e sustentabilidade ambiental deverão ser os temas centrais da campanha. Lisboa tem enfrentado uma crise habitacional nos últimos anos, com o aumento dos preços das rendas e a gentrificação a expulsar muitos moradores do centro da cidade. O Bloco de Esquerda tem sido uma das vozes mais ativas na defesa de uma intervenção pública mais robusta no setor da habitação, e essa posição deverá ser um dos pilares de qualquer entendimento com o PS.

A cidade também enfrenta desafios em termos de mobilidade, com a necessidade de investir em infraestruturas que promovam o transporte público e reduzam a dependência de veículos privados. Estas questões, associadas à recuperação económica pós-pandemia e às políticas de sustentabilidade, deverão dominar o debate eleitoral em Lisboa.